Oi, família, tudo bem?

Muito se tem falado da importância do diálogo na vida familiar. Realmente, é uma grande necessidade em termos de vida em comum: ou dialogar ou morrer. Como dialogar nestes tempos de redes sociais em que todos estão ligados a um smartfone, tablet e outros, conversando com pessoas do mundo inteiro, enquanto se calam com os que estão em casa? A tecnologia trouxe muitas facilidades, mas se não bem dimensionada, torna o homem um grande solitário. Pessoas trocam uma gama imensa de informações, porém passam mensagens cada vez mais superficiais e descompromissadas com o outro. A família sofre as consequências das novas formas de comunicação. Porém nada substitui o diálogo frente a frente, olho no olho. Nada substitui o encontro, a presença, o calor humano. Como, pois vivenciar o diálogo em família? Que dificulta o verdadeiro diálogo?


A família é uma comunidade de vida e de amor. Para amar é necessário que haja o encontro entre as pessoas. Desse encontro surge o diálogo, do diálogo o conhecimento e deste o amor. Ninguém ama o que não conhece. O diálogo é o encontro pessoal e personalizante entre as pessoas, capaz de estabelecer e consolidar relações e intercâmbio que conduzam à comunhão de amor entre duas pessoas.


A comunicação entre o casal é uma necessidade para que haja verdadeira comunhão de vida. “A comunicação cria laços de confiança, de abertura, de entendimento, de troca de verdadeiro e denso amor” (Fr.Almir Guimarães – Famílias novas).
Dialogar é partilhar o próprio eu: anseios, sofrimentos, desejos, dúvidas, sentimentos, alegrias, curiosidades etc. Muitos conversam, poucos dialogam. Conversar não é necessariamente dialogar. Conversar é algo descompromissado, fala-se de tudo, coisas banais ou interessantes, mas coisas que não nos criam laços. O diálogo é algo mais íntimo, cria laços de afeto, de partilha, de cumplicidade, de participação na vida o outro. Ele questiona, incentiva, corrige, perdoa, escuta mais e fala menos, reflete, ajuda, leva a caminhar na mesma direção. O diálogo vai além das palavras. Sem ele não há verdadeira comunidade de vida e de amor.
O que é preciso fazer para haver verdadeiro diálogo?


É importante observar algumas regrinhas básicas:
1. oportunidade: as coisas devem ser faladas na hora certa e no lugar certo e com serenidade. Se estiver nervoso, espere um pouco.
2. sinceridade: leva à confiança e à alegria. A mentira provoca insegurança, o medo e as suspeitas desnecessárias.
3. profundidade: não se deve limitar a coisas de jornais, filmes, novelas ou assuntos banais do quotidiano. É preciso abrir o coração ao outro, falar dos sentimentos, mostrar o que pensa a respeito de certos assuntos, a visão do mundo etc.
4. respeito: é preciso colocar-se no ângulo do outro. Tentar entender seu ponto de vista. Argumentar quando for o caso, mas não menosprezar o que o outro pensa ou quer. Siga-se o que diz São Paulo: “examinar tudo e ficar com o que é bom”.
5. colaboração: no diálogo não existe vencedor ou vencido. Não se discute para ver quem tem razão. Dialoga-se para acolher, não para derrotar. Que um complete o outro, colaborando para que o cônjuge seja melhor e mais feliz.
6. escutar e refletir: em todo o diálogo, é importante escutar duas vezes antes de falar. Evite interromper seu cônjuge quando está falando alguma coisa, mesmo que no seu ponto de vista não seja tão importante. Para o outro é e isso é o que interessa. Pare, escute com os ouvidos e com o coração. Quando você interrompe alguém passa uma tríplice mensagem: primeiro você não está prestando atenção; segundo, o que o outro está falando não interessa; terceiro, o que você tem a falar é mais importante. Viu que estrago se faz quando na vida familiar, um interrompe o outro quando vai falar de si mesmo ou sua visão das coisas?O diálogo sobre seus sentimentos, sua vida conjugal, deve ser procurado regularmente. Aconselha-se a não passar trinta dias sem falar sobre esses assuntos: como está nossa vida conjugal? Como estão nossos filhos? Que fazer a respeito para que as coisas melhorem?


Não só de palavras vive o diálogo. Ele é expresso pelo carinho, pela atenção, por um beijo, por um abraço, um telefonema, uma frase de efeito (como sou feliz por estar contigo), um pequeno presente, uma saída para passear e tantas outras coisas simples que no dia-a-dia enriquece o relacionamento do casal.
Inúmeras coisas podem dificultar o diálogo na família. Citarei apenas alguns:

  • Não dar importância ao que o outro diz.
  • Zombar das atitudes e palavras do outro, menosprezando por causa de seus modos, de seu físico e de sua família.
  • Maltratar com palavras ou atitudes.
  • Não acolher com carinho quando o outro se achega.
  • Não reservar tempo para ao menos uma refeição juntos.
  • A televisão, que impede o encontro para as relações interpessoais no lar.
  • Excesso de uso do computador à noite, quando a família pode partilhar os acontecimentos e experiências do dia.
  • Falta de momentos de oração em comum.

O diálogo para ser completo tem que atingir as quatro dimensões do ser humano: a dimensão afetiva, a racional, a física e a sobrenatural.
O carinho, a educação no modo de lidar com o outro são formas de diálogo afetivo.”O amor vive de esperanças e não de decepções e lembranças”, por isso é preciso perdoar. Respeite o que o outro sente e diz e não fique buscando faltas do passado para humilhar ou criticar o presente.
A colaboração entre os membros da comunidade familiar, a ajuda mútua constituem o diálogo físico. O ato conjugal também como remédio para os desejos da carne é diálogo físico e abençoado por Deus, pois o casal é consagrado pelo sacramento.
Mas a família não pode prescindir do diálogo sobrenatural: a oração pessoal, a oração em família e a santa missa dominical constituem condição para que a comunidade familiar se realize plenamente conforme o plano de Deus. O casal deve criar no lar um ambiente onde se respira a fé, o amor, no espírito da confiança em Deus do acolhimento do próximo.


Pe. José Edilson de Lima